Tachismo

Felipe Cattapan, Músico
Algum autor
algum dia
em algum livro escreveu
que para se escrever poesia
Insight Inteligência - artigos e ensaios fora da curva
basta cortar os pulsos sem agonia
e ver o sangue verter sem pudor
meu sangue vertido
correndo, escorreu
recorrendo, discorreu
convertido no vértice
desta folha de papel:
não vi poema, não virei poeta
só vejo aqui este borrão sem meta
Algum leitor
algum dia
talvez trace com fantasia
o esboço de um sentido
para o impulso irrefletido
deste meu nada desmanchado
Entretido
omito a minha dor borrada
revendo meu borrão sem estética
evitando rever a cor
do maior dos borrões sem métrica:
este branco latente no papel
permanente na sua ausência de ética;
inerente às cores de qualquer pincel
e onipresente em sua abstrata geometria;
indiferente à nossa mancha assimétrica
e ao nada de qualquer poesia.
O autor é regente de orquestra e professor do Departamento de Música da Universidade de Artes de Berna, Suíça.